domingo, 7 de agosto de 2011

"Se eu pudesse acreditar que envelhecerei na busca e na mudança - disse Rhoda -, estaria livre do meu medo: nada persiste. Um momento não leva a outro. A porta abre e o tigre salta. Vocês não me viram chegar. Circulei em torno das cadeiras para evitar o horror do salto. Tenho medo de todos vocês. Tenho medo do choque da sensação que salta sobre mim porque não posso lidar com ela como vocês - não posso fazer um momento fundir-se no outro. Para mim são todos violentos; todos apartados; e se eu cair ao impacto do salto do momento, vocês estarão sobre mim, fazendo-me em pedaços. Não tenho um fim em vista. Não sei como correr de minuto a minuto, hora a hora, dissolvendo-os por uma força natural até que formem a massa inteira e indivisível que vocês chamam vida. Porque vocês têm um fim em vista - é uma pessoa ao lado de quem sentar, é uma idéia, é a beleza? Não sei - seus dias e horas passam assim como a ramaria de árvores e o macio verde da floresta para um cão disparando atrás de um faro. Mas não há um só odor, um só corpo que eu possa seguir. E não tenho rosto. Sou como a espuma que corre pela praia ou o luar que despenca como uma seta sobre uma vasilha de estanho, sobre uma espiga de azevim-do-mar, sobre um osso ou um barco meio carcomido. Sou levada em redemoinhos por cavernas, adejo como papel por corredores intermináveis, preciso comprimir minha mão na parede para me conter."

As Ondas.


Virgínia Woolf

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